Nem todo jogo precisa ser desafiador e esse é um longo debate na comunidade. De um lado, os defensores radicais do "git gud", os profetas da dificuldade, do "sem dor, sem valor", os entusiastas da platina. Do outro lado, um pessoal que só quer passar o seu tempo da melhor maneira possível, vendo coisinhas brilhantes, barulhinhos e relaxar. Depois de tanto tempo nesse universo dos jogos eletrônicos, acredito e defendo que podem e devem existir títulos para todos os gostos, todos os públicos e o que cada um faz no recesso do seu lar com um controle e um teclado na mão não é da alçada de ninguém. Se um jogo tem diferentes níveis de dificuldade, que uma criança ou um hardcore gamer possam se divertir igual, melhor para todos, jogadores e o desenvolvedor.
Mas divago.
Islanders se enquadra bem no centro dessa discussão, por simultaneamente ser relaxante e desafiador. A vontade de se superar (ou não) é trazida pelo jogador. É um raríssimo caso de jogo de estratégia minimalista, acessível a todos, desafiador a todos.
Recebi o jogo por uma imensa cortesia do Marco Constantino, em um momento em que estava me despedindo do exaustivo Conan Exiles. Era o remédio certo para curar minha ressaca Hiboriana.
Em Islanders, você tem mapas gerados aleatoriamente de ilhas perdidas no meio do oceano. Nesses mapas, você precisa colocar estruturas, construir uma mini-civilização. As semelhanças com jogos de estratégia param por aí. Aqui, não há necessidade de coletar recursos constantemente, erguer exércitos ou confrontar inimigos. Apenas monte suas comunidades, avance para a próxima ilha randômica, repita, curta a música e os gráficos fofos.
Só que não exatamente.
Cada construção erguida em Islanders gera pontos no momento em que é posicionada, de acordo com sua localização. E você tem uma meta de pontos a atingir a todo momento, antes de receber uma nova série de opções de prédios. Nesse aspecto, o jogo pega elementos de Tetris e card games, porque o encaixe das estruturas no mapa precisa ser calculado com cuidado e você não tem um controle preciso de quais estruturas estarão disponíveis no próximo "pacote". Há um pouco de sorte e um pouco de raciocínio envolvidos, camuflados de "jogo casual". Se você relaxar demais, vai terminar sem prédios liberados e com todo o seu trabalho descartado na fatídica tela de fim de jogo.
Para minha surpresa, meu filho não apenas tomou Islanders para si, como também superou meus recordes por uma larga margem. Digamos que o garoto de onze anos conseguiu uma pontuação cinco vezes maior que a minha e não dá sinais de que vá parar por aí. É um prodígio, principalmente porque ele não lê inglês, então ele está aprendendo quais prédios funcionam melhor perto de outros por tentativa e erro.
Sem um final plausível além de subir em um ranking global (uma pressão que, na minha opinião, invalida o aspecto contemplativo do jogo), despeço-me de Islanders deixando-o em mãos mais capacitadas.