O que dizer de um jogo que já foi pejorativamente chamado de "protetor de tela interativo"? De fato, Proteus pode muito bem ter extrapolado os limites do que conhecemos como jogo. E é justamente essa definição elástica de "jogo" que torna o meio tão interessante: existem experiências solidamente calcadas na habilidade do jogador, sejam seus reflexos ou seu raciocínio, e existem experiências como Proteus, quase que puramente contemplativas. Se a sua definição de "jogo" não embarca este título indie, quem sou eu para censurá-lo?
Discussões à parte, o que é Proteus, afinal? É um simulador de passeio por uma ilha pixelizada gerada de forma procedural a cada partida. Você tem apenas dois tipos de controle: para onde olhar e para onde andar. Obviamente, é impossível morrer ou ser ferido. É uma imersão de pura tranquilidade, descoberta e relaxamento que dura no máximo uma hora e com um replay value que tanto pode ser infinito quanto nulo.
Instalei o jogo como um exercício de liberdade para meu filho, que gosta de sair por aí em open worlds, frequentemente nos colocando em apuros maiores do que nossos personagens conseguem lidar. Imaginei, com razão, que os gráficos nada realistas não seriam um impasse para ele. Temi injustamente que a aparente falta de um objetivo talvez o cansasse. Nos primeiros minutos ele me perguntou "qual botão pula" e "onde atira", mas depois o simples encantamento da exploração tomou conta da brincadeira e saímos pela ilha gerada procurando estranhas e sonoras formas de vida.
Para os desavisados, existem objetivos em Proteus e é até possível "vencer" o jogo. Se você estiver no lugar certo na hora certa, conseguirá mudar as estações do ano na ilha. Você começa na Primavera, migra para o fulgurante Verão, para o desolado Outono e encerra sua jornada no sombrio Inverno. Sabendo o que fazer, dá para atravessar as quatro fases em 40 minutos ou menos. Embora, essa correria seja o exato oposto da proposta original...
O grande trunfo de Proteus, que lhe valeu alguns prêmios, é a trilha sonora adaptativa. Suave, envolvente, ela se altera dinamicamente de acordo com o que você descobre na ilha (sejam animais, monumentos ou lugares estranhos) ou para a direção onde você olha. É um título focado em sensações, não em realizações.
No dia seguinte, meu filho pediu outra sessão de Proteus. No Inverno, já tinha perdido todo o interesse antes do fim. Infelizmente, é um protetor de tela interativo com poucas novidades de um dia para o outro. Tanto meu filho quanto eu estávamos de olho em descobertas, ansiosos pelas surpresas que poderiam se ocultar na nova ilha e não fomos atendidos. Não entendemos a proposta. Nos despedimos. Com alguns cartões postais na lembrança.