Em 2017, tive a oportunidade de entrevistar o camarada Andre Yin para a série Brasil dos Jogos. Na época, Dreaming Sarah já tinha completado dois anos de seu lançamento, mas eu ainda levaria outros quatro anos para finalmente experimentar a aventura lisérgica da jovem homônima.
Em termos de estilo, Dreaming Sarah pode ser definido como um Metroidvania, no sentido em que ele apresenta diversas áreas distintas que precisam ser exploradas, mas algumas delas você só consegue desbloquear ou mesmo descobrir que existem depois de conquistar uma nova habilidade. Entretanto, tanto as semelhanças quanto nossa própria capacidade de definir o que está acontecendo em Dreaming Sarah se esgotam por aqui.
Á primeira vista, Sarah está perdida entre dimensões e isso seria apenas uma desculpa barata para alinhar uma vasta sucessão de cenários que não fazem qualquer sentido. Porém, a proposta de Andre Yin vai muito além disso e está muito próxima daquele jorro de sensações e experiências que obtemos em um sonho carregado de simbolismos. Nada nessa aventura é previsível e a obra está muito mais próxima do trabalho de um David Lynch do que de um Koji Igarashi, resultando em uma agradável fuga da realidade, um vagar perdido por ermos que flertam com o bizarro.
Para um Explorador como eu, Dreaming Sarah se mostrou uma overdose de descobertas e talvez seja impossível saber se consegui ver tudo que há para ser visto, mesmo em tão curta jornada. Há cenas perturbadoras, há cenas engraçadas, há cenas que não cabem em prosa, mas deveriam estar em um poema.
Apesar de toda a estranheza, há propósito em Dreaming Sarah. A jovem que controlamos na verdade está perdida em um estado de coma e desvendar seu passado e o que a levou para essa condição será fundamental para atingirmos a conclusão dessa caminhada. Há elementos que guardam significados ocultos e um psicólogo certamente teria bastante material para se divertir com o subconsciente de Sarah e tais signos.
A trilha sonora do jogo embala a aventura com perfeição. Não por acaso, a ideia do jogo de certa forma brotou depois de Yin ouvir as músicas de Anthony Septim. O resultado é uma obra que convida ao sonhar sendo materializada em outra obra que também embarca nesse adormecer, uma ressignificando a outra em um abraço eterno.
O despertar é delicioso, mas deixa saudades.
Ouvindo: The Birthday Massacre - Pins And Needles