Por muito pouco, não houve um filme baseado em Bioshock. A Universal Pictures estava confiante na possibilidade. Ken Levine, pai da criança, havia dado o seu aval. Gore Verbinski, o multi-platinado diretor da franquia Piratas do Caribe estava na frente do projeto (embora sua experiência com O Chamado fosse mais próxima do que se estava planejando).
Antes que tudo fosse por água abaixo, Tim Flattery ficou encarregado de produzir artes conceituais de como a história de Rapture ficaria nas telonas. Esse material veio à tona apenas na semana passada, no site oficial do artista plástico:
Flattery esteve envolvido na produção de artes conceituais de sucessos como Jogos Vorazes, Homens de Preto, De Volta para o Futuro 2, Inteligência Artificial e outros. Desta vez, ele não deu sorte.
Bioshock, o filme, naufragou quando o custo previsto subiu para 200 milhões de dólares. A cifra pode parecer o padrão para filmes que miram altas bilheterias, mas Gore Verbinski exigiu que o filme tivesse censura R (Restricted) e não pretendia amenizar o tom da trama. Afinal, estamos falando de uma história que envolve conceitos complexos, como as teorias de Ayn Rand, distopia, o possível morticínio de meninas mutantes e o uso de substâncias injetáveis que melhoram o protagonista. O jogo é classificado como Mature, uma adaptação não deveria fugir de suas premissas.
Mas a classificação R é considerada um suicídio comercial nos corredores de Hollywood. Na prática, ela significa que menores de 17 anos não podem pisar na sala de cinema sem a companhia de um responsável e ali a lei é levada a sério. Nas últimas décadas, menores de 17 anos tem constituído o grosso do público das grandes bilheterias. Na matemática fria dos executivos, não dá para gastar 200 milhões em um filme que vai deixar boa parte da audiência do lado de fora.
A Universal Pictures ofereceu 80 milhões para Gore Verbinski fazer o filme do jeito que queria. Verbinski pulou fora. Só de cenários, boa parte deste dinheiro iria embora. Com a saída de Verbinski e a escalação de outro diretor, Ken Levine sentiu o cheiro de encrenca e mandou cancelar a adaptação.
Mas a ironia viria a galope. O mesmo Gore Verbinski conseguiu um orçamento de 215 milhões de dólares para fazer O Cavaleiro Solitário. Apesar da censura liberada para maiores de 13 anos e das múltiplas alterações de roteiro para alcançar esta classificação, o filme arrecadou menos da metade do seu orçamento nas bilheterias. E, ironia das ironias, menos de 8% do seu público era composto de menores de 25 anos.