Nunca batize um computador com o nome de um jogo de David Cage.
Meu PC anterior recebeu o nome de Indigo, baseado no primeiro jogo instalado nele, o infame Indigo Prophecy, uma tradição que me acompanha desde 1998. E como o estranho adventure da Quantic Dream, seu começo era promissor. Foi minha primeira máquina comprada inteiramente pela Internet, através da extinta Preview Computadores. Foi barato, prático e o PC parecia ser bastante potente. Como o jogo que lhe batizou, parecia uma pérola escondida brilhando em minha mão.
Aí, começaram os problemas. Descobri que a Preview fazia overclock nas máquinas. A descoberta me custou uma placa-mãe e uma placa de vídeo torradas na fogueira da performance. E, da mesma forma que Indigo Prophecy, a alegria desceu ladeira abaixo em forma de confusão. Vários componentes originais pifaram e foram trocados. A segunda placa-mãe perdeu o suporte a USB no final de 2012. E foi se arrastando até perder o som onboard em Janeiro deste ano. Foram duas semanas jogando Guild Wars 2 no silêncio e com Outcast esperando sua vez.
Agora, Indigo, ou o que sobrou dele, está dentro de uma caixa em um quarto na garagem. Cheio de potencial, com um final desastroso. Maldito David Cage.
Parada Obrigatória
Mantendo a tradição, o novo PC chama-se Kryta, o nome do último reino dos Humanos em Guild Wars 2. Se eu tivesse conseguido rodar Outcast, o nome poderia ter sido diferente, mas o Destino traça suas próprias diretrizes.
Comprei apenas placa-mãe, gabinete e processador. Todo o resto seria canibalizado de Indigo, exceto a memória, que eu tinha guardado justamente por não ser compatível com Indigo. Meus dotes de hardware não são tão afiados a ponto de montar do zero e gastei uma hora para transferir tudo do lugar e ligar. Com satisfação, carregou o boot.
Entrou o XP e deu Tela Azul.
Duas horas desmontando tudo e isolando os componentes. Testei outro HD. Troquei a fonte. Tirei a placa de vídeo e espetei o monitor na placa-mãe. Nada resolvia.
Com fome, com sede, suado e com os dedos sujos, eu era a imagem da desolação. Atrás de mim, o espectro de David Cage zombava de mim e implorava para remontar Indigo.
Então, eu congelei a tela de erro e copiei o código de parada. Acredite ou não, aquela maçaroca de letras de números tem um significado menos hermético do que aparenta. Eu aprendi que 0x0000007B é um código para quando o XP não consegue iniciar por algum problema no disco onde está instalado, por exemplo.
Uma dica na internet no netbook da minha esposa dizia que Reparar a Instalação do sistema podia funcionar. Na pior das hipóteses, estava disposto a reinstalar tudo do zero, perder saves, arquivos, papéis de parede, tudo que não tinha backup na nuvem. Espertamente, tinha feito um backup dois dias antes, prevendo o pior.
Durante o Reparo, tela azul. Cage gargalhava agora, acompanhado de Bill Gates e Steve Ballmer. A sala estava ficando cheia.
Mas o código da tela azul era diferente: 0xF78D2524.
Minha esposa voltara a usar o netbook, correndo para entregar um projeto para sua orientadora, não iria ceder nem um minuto para um homem sujo com cara de loser. Movido pelo desespero, confisquei o tablet do meu filho. É quase um brinquedo aquilo, mas tem Wi-Fi e Google. Joguei no Google e no segundo resultado havia uma dica, muito, muito obscura: um XP instalado em drive SATA só se comporta bem se a placa-mãe não tratar o drive como AHCI, seja lá o que for isso. Era algo que eu tinha visto na BIOS. Religa a máquina, acessa o BIOS com o tablet na mão e ali estava: AHCI é um método que habilita uma série de funcionalidades legais no drive, incluindo enlouquecer o XP. O Windows XP precisa ser reinstalado (ou removido) para aceitar o AHCI.
Desabilitei e a placa-mãe passou a tratar meu HD como um dispositivo IDE. Não há limites para a heresia. Gates e Ballmer rolam no chão da sala. Ballmer está sem camisa.
Mas agora o Windows XP inicia. Kryta vive. Os fantasmas somem.
Surge Kryta!
A nova máquina não é aquilo que eu mereço, mas é aquilo que foi possível montar dado o tempo e os recursos. Pelo lado positivo, comparo sempre com a configuração inicial anterior e é sempre um salto, com possibilidades de upgrade nos próximos meses. Só de trocar mouse e teclado PS2 e voltar a usar USB, já é um alívio.
Kryta é meu quinto PC e o primeiro batizado em homenagem a um MMORPG, prova de que o gênero chegou para ficar na minha biblioteca.
Configuração inicial:
- Intel Core i3 3.40GHz
- 4GB de RAM DDR3
- Placa de Vídeo NVIDIA GeForce 9400 GT com 1GB de RAM
- Disco rígido de 1TB
- Drive de Blu-Ray
A olho nu, não notei nem um mísero aumento de performance. Até porque não estou com nenhum jogo pesado instalado e ainda não abri o Photoshop para labuta pesada.
Planos para o futuro próximo: aposentar compulsoriamente o Windows XP e instalar o Windows 7 64-bits, para poder colocar mais 4GB de memória na configuração e reativar o AHCI. Planos para o futuro distante: trocar a placa de vídeo e jogar Half-Life 3.
Que a trajetória da máquina reproduza o mundo de Guild Wars 2: cativante, tranquilo e cheio de boas descobertas.