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Channel: Retina Desgastada
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Shepard Ascende

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Mass Effect 3

Terminei o final original de Mass Effect 3. No dia seguinte, experimentei a versão Extended Cut, que agora se tornou cânone. Ainda que tenha gostado do final em sua primeira versão, é inegável que o barulho dos fãs acabou mobilizando a Bioware para produzir um final melhor. Ainda não tenho certeza de que toda a movimentação se justificou, mas não posso negar que o resultado é superior. Curioso notar que a nova versão tenta se instalar obrigatoriamente junto com o jogo e foi apenas uma falha no download que me permitiu jogar o final original...

Sem entrar em spoilers, eu atravessei aqueles últimos degraus da jornada de Shepard já imaginando mais ou menos o que iria encontrar. Ao invés de se refugiar na tradicional e batida batalha-com-chefe, como fez nos dois primeiros capítulos da franquia de forma burocrática, a Bioware corre para uma resolução cerebral. Não que antes você não tenha tido que abrir seu caminho com chumbo e sangue; a última hora antes do fim é desesperadora. Talvez você tenha entendido que o inimigo era um problema a ser resolvido com violência, uma vez que toda a mecânica da série é inspirada nos jogos de tiro em terceira pessoa. Mas isso seria esquecer que toda a atmosfera, e esta é a alma de Mass Effect, está no poder da escolha e em suas implicações. Como afirmei antes, no meu entendimento, o terceiro capítulo não é sobre guerra. É sobre uma força esmagadora que não pode ser contornada. É sobre evolução e vida.

Palmas para seus criadores que não me colocaram outra vez para acertar pontos específicos de um boss enquanto me movimento pelo cenário. Foi o desastre que afundou Risen.

Argumenta-se que suas escolhas são ilusórias no final por que não há um prosseguimento. Bem, não há um prosseguimento porque é o fim. A única falha, que seria se estender pouco em seu epílogo, é graciosamente corrigida com o Extended Cut gratuito. Há até explicações que julgo desnecessárias sobre a natureza do oponente e o destino do protagonista. Não precisava, a ficção-científica está repleta de finais herméticos que colocam os fãs debatendo por décadas, vide 2001, Blade Runner e até mesmo o espúrio Matrix Revolutions. E  a conclusão original nem era tão confusa assim.

Então, do ponto de vista narrativo, puramente narrativo, para mim a saga teve um desfecho satisfatório, emocionalmente ampliado com a versão estendida.

O que nos leva à impressionante lista de decisões de negócio estúpidas tomadas pela Bioware.

WTF?!

Durante o jogo inteiro, o jogador é induzido a acreditar que um determinado elemento estratégico, o Effective Military Strength, tem um valor decisivo para o final do jogo. É preciso realizar uma boa quantidade de sidequests frouxas para completar uma barra abstrata que, no frigir dos ovos, não tem tanta importância. A menos que você preencha-a completamente, o que é desgastante, as mudanças são sutis demais para serem notadas.

Para completar este valor abstrato acima do normal, você precisa se dedicar ao modo multiplayer. Em uma franquia caracterizada pela jornada solitária, bloquear opções atrás de uma jogatina compartilhada que foi descrita como bugada e limitada em seu lançamento é, no mínimo, um desrespeito. Aparentemente, o que muitos chamam de "o melhor final" só pode ser alcançado desta forma.

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Não só a Bioware comercializou a transição entre Mass Effect 2 e Mass Effect 3 em um DLC e limitou um NPC importantíssimo ao DLC "From Ashes", como também escondeu fantásticas revelações sobre a natureza dos Reapers em outro DLC, "Leviathan". Ganância e desrespeito falaram mais alto outra vez e detalhes enriquecedores recebem o disfarce de "opcionais" e ganham o conturbado tratamento comercial já exibido antes.

Infelizmente, quem resolveu experimentar no final e ver o que aconteceria se tomasse decisões diferentes, se viu surpreendido com conclusões muito similares. Similares demais. Para quem se ateve ao que escolheu, tudo parece ótimo. Mas, no fundo, revela-se que tudo foi sempre um engodo, uma ilusão de escolha e que a Bioware estava o tempo todo no comando da narrativa. No último segundo, cai o cenário e você vê a mão forte do diretor. Mantivesse a magia por mais alguns minutos e teríamos um título ainda mais memorável do que já é.

Se o final original me pareceu satisfatório, a versão estendida deixou claro que, na verdade, faltou capricho. Porque ela é muito superior. Há mais paixão, há respostas para aqueles que ficaram confusos, há um desfecho melhor para personagens que nos acompanharam por tanto tempo. O fato da Bioware não ter modificado o rumo das coisas preservou sua integridade artística e eu aprovo a coragem. Ainda que as decisões de negócio acima a tenham prejudicado.

É estranho me despedir agora de Charles Shepard, depois de tanto tempo. No cabo de guerra entre Arte e Negócios, ele sai de cena arranhado.

Mas foi bom.

"Can you tell me another story about The Shepard?"

Finais Alternativos

Durante minha análise do jogo, me esforcei para não ler ou reler a opinião de outros autores sobre Mass Effect 3. Mas favoritei um punhado. Agora, estou livre para fazê-lo. E recomendo:

Ouvindo: Gerlof Leuhof - Duke Nukem Theme (Dance mix)

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