Depois de ter me deslumbrado com a liberdade aparentemente infinita de GTA III, o que eu poderia esperar? Mais jogos da franquia, obviamente. Algo que, felizmente, a Rockstar não tem falhado em entregar.
Entretanto, os primeiros minutos de Vice City, também baixados pela pirataria, não foram exatamente um retorno triunfal à série. Neon demais. Luz demais. Surfistas demais. Patins demais. De repente, a poesia depressiva e pé no chão de Liberty City havia sido trocada pelo refugo dos anos 80 e pelo exagero visual de uma Miami idealizada.
Odiei.
Para ser completamente sincero, os anos 80 para mim poderiam ser melhor definidos por The Cure, Bauhaus, Sisters of Mercy e Crepúsculo de Cubatão. Eu era destes. Ou pelo menos tentava. Miami Vice, Duran Duran, verde-limão e chiclete sabor maçã verde foram coisas que nem o tempo me ensinou a gostar.
GTA: Vice City ficou 15 minutos instalado no computador, antes de ser descartado. Para que me esforçar em curtir um título que eu nem paguei para ter? Era essa a mentalidade vigente e a rotação era cruel.
O hype se criou em torno de San Andreas e seu impressionante escopo: não uma cidade, mas um Estado inteiro. Controle de gangues. Aeronaves pilotáveis. Cuidar do visual. Escolher roupas. O título seguinte da franquia parecia ser maior que a vida.
Foi um longo download. Mas do instante em que instalei até o último minuto de final feliz, San Andreas foi O Grand Theft Auto que eu poderia chamar de Arte.
Já escrevi aqui sobre a importância de Carl Johnson na indústria dos jogos eletrônicos. E quão tacanha pode ser a visão daqueles que veem GTA e enxergam apenas um jogo onde é possível cometer muitos crimes, aloprar prostitutas e barbarizar pedestres. A epopeia de CJ fala sobre oportunidades (ou a falta delas), sobre a importância da família e dos amigos para triunfar em uma sociedade que te quer ver morto em nome do dinheiro. Para proteger aqueles que ama, para afastar as drogas do seu bairro, CJ não se vende, luta, se reinventa como criminoso de alto nível, faz novos amigos e dá a volta por cima como um Conde de Monte Cristo moderno em uma trajetória de vingança contra os corruptos e os corruptores.
O único defeito de San Andreas talvez seja justamente sua grandiosidade. Para justificar tamanho espaço geográfico, a Rockstar empilha missão após missão, algumas que fogem completamente da trama que se pretende contar, outras que são ridículas demais para serem críveis. Ainda assim, a desenvolvedora não perde o fio da meada e amarra tudo em uma longa conclusão repleta de sangue, fogo, tiros e uma referência ao mundo real, ao grande riot de Los Angeles de 1992.
Mais de vinte anos depois dos eventos reais, mais de dez anos depois do jogo e a situação dos negros no país das oportunidades permanece inalterada. San Andreas e Grove Street segue atual, segue marcante.
Grand Theft Auto IV teve a estranha honraria de ser o último jogo que eu piratearia na vida. Nunca instalei aquela versão ilegal. Hoje tenho todos os títulos devidamente adquiridos via Steam.
Mas GTA IV nunca foi pra frente no meu PC. Continuo com saudades da sombria Liberty City. Na única vez que finalmente instalei, esbarrei em uma muralha intransponível chamada Games for Windows Live. O mesmo GFWL que havia se intrometido em minha diversão tanto em Batman: Arkham Asylum, quanto Batman: Arkham City, agora se erguia como um obstáculo que eu não consegui contornar. Depois de dois dias tentando, deixei GTA IV de lado para uma outra oportunidade.
Com GTA V finalmente lançado para PC, é certo que minha história com a série está longe de terminar.