O melhor momento de Evolveé quando você está à bordo da nave de transporte que te leva para a superfície do planeta. Quatro dos caçadores mais perigosos do universo com características bem diferentes uns dos outros reunidos no compartimento de carga rumo ao desconhecido. A porta traseira se abre, revelando uma paisagem centenas de metros abaixo. Dá para sentir o vento batendo no rosto e a adrenalina subindo. Eles saltam para o vazio, sem medo.
Ironicamente, toda essa sequência é automática e você não controla nada. A emoção termina quando você toca o solo.
Evolve foi desenvolvido pela mesma equipe de Left 4 Dead, mas nem parece. Onde no primeiro a camaradagem entre os aliados era primordial, a tensão permanente e a surpresa uma certeza, aqui os personagens mal se dão conta uns dos outros, a caçada é um passeio e a previsibilidade triunfa.
Parece que tem um grande monstro no jogo e esse é o chamariz de Evolve: um título assimétrico, um subgênero dos jogos multiplayer que vem ganhando tração. Através dessa mecânica, um dos jogadores controla uma criatura das trevas, um assassino serial, um tubarão mortal, ou, como é o caso aqui, uma fera alienígena. Os demais encarnam personagens com muito menos capacidade que o anterior e que são a sua presa.
A teoria é essa, mas, jogando Evolve, percebi que a assimetria foi invertida e pobre daquele coitado que optar por controlar o monstro. A besta colossal com vários metros de altura e poderes exóticos, pouco mais é que um leão na savana fugindo de caçadores equipados de bazucas. A recomendação é que o monstro fuja, cace presas menores, se alimente e evolua para poder encarar os caçadores. Mas a evolução é lenta, os mapas são minúsculos e a criatura deixa para trás um rastro fácil de ser seguido, quando não é identificada por satélite ou denunciada por uma revoada de pássaros assustados. Quando se dá conta, está cercada por um domo intransponível, levando tiros de múltiplas direções de humanos que aguentam todos os castigos que ele difere. Em quatro, cinco minutos, é possível completar uma partida.
Até caçadas de raposa, onde um único animal é perseguido por matilhas de cães farejadores e uma penca de humanos a cavalos, são mais justas para o animal que Evolve.
Entrei no jogo sem pagar nada. Mas esperava um nível de emoção proporcional àquele salto no vazio do começo da caçada. Encontrei um rastro luminoso me levando até um alvo do tamanho de uma casa, incapaz de se esconder. É como pescar em um barril. É possível a vitória do monstro, mas isso exige ao mesmo tempo uma grande habilidade de quem o controla e uma grande incompetência de quem o caça.
Experimentei todos os tipos de caçadores e experimentei todos os tipos de monstro. Há grandes personagens aqui e feras dignas de pesadelo. Mas, na hora da onça beber água, tudo se resume a espancar os botões das habilidades depois que o cooldown termina. Com apenas quatro habilidades disponíveis, o combate é bem menos estratégico que a maioria dos MMOs, onde você enfrenta um chefe controlado por AI. Para quem entra na pele da fera, brota no peito uma sensação de impotência: como é possível que um humano que não bate no seu joelho aguente um golpe de suas garras, um jorro de fogo ou uma pedra do tamanho de um ônibus arremessado contra sua cabeça? Eles aguentam. Porque em Evolve, a assimetria está do lado dos caçadores. O monstro é a vítima.
Para completar o sofrimento, o tempo de espera entre uma partida e outra é maior que muitas caçadas. Cada jogador precisa estar alinhado, com seu papel escolhido, com suas habilidades e vantagens selecionadas. São muitas opções de customização, mas vão pouco além de "+10% de propulsão" ou "+5% de dano", o que, no calor da batalha, pouca ou nenhuma diferença fazem. Você tamborila os dedos esperando a partida começar, esperando a tela de carregamento completar, e isso é um bocado de tempo para avaliar o que você está fazendo aqui com tantos outros jogos mais interessantes no mercado.
Reza a lenda que Evolve foi um jogo melhor. Que os mapas eram enormes, cheios de lugares para o monstro se esconder. Que ele era mais forte, evoluía mais rápido. Que apenas uma classe de caçador podia rastreá-lo e apenas outra classe poderia prendê-lo em um domo. Era um autêntico jogo de gato e rato, onde inteligência e nervos de aço faziam a diferença. Mas também reza a lenda que os jogadores reclamaram que o jogo era lento, desbalanceado(?), que tinha pouco confronto. A impressão errada afundou as vendas. A desenvolvedora jogou a toalha e mudou tudo, transformando Evolve nesse pastiche onde o que vale é "meter bala no bichão". Virou um dos títulos mais jogados no Steam por um tempo.
Agora, caiu de novo de posição. Ou, melhor dizendo, saltou para o vazio.