Silent Hill não é sobre medo. Silent Hill é sobre perda, sobre a dor e a tristeza da perda. O medo é apenas uma consequência, um obstáculo a ser transposto, um ou mais inimigos a serem derrotados. A perda, esta é inevitável.
Silent Hill também é uma série da qual eu havia me ausentado há tempo demais. Em oito anos de blog, nunca voltei a jogar, ainda que Silent Hill 2 seja um dos meus jogos favoritos e Silent Hill 3 me tenha causado uma boa impressão. Mas os rumores eram de que o quarto capítulo não correspondia aos anteriores e ver a série afundando em sequências progressivamente irrelevantes até virar tema de máquinas de pachinko só serviam para aumentar meu medo. O medo da perda. Da perda de Silent Hill, um lugar que, por mais bizarro que pareça, tornou-se para mim familiar e aconchegante no universo dos jogos.
Mas resolvi aproveitar a proximidade do Outubro do Horror para tirar a poeira de um disco pirata do infame Silent Hill 4: The Room. O jogo nunca foi vendido em formato digital e me obrigou a recorrer a um hábito há muito abandonado. Sem surpresas, o disco não funcionou. Poderia ser um sinal arcano para abandonar essa insanidade e manter viva apenas as memórias do 2 e do 3? Ou seria um teste de minha determinação de mergulhar novamente em tão turvas águas? Mais de oito anos se passaram, se tornou extremamente fácil baixar outra versão ilegal do jogo.
E ela rodou.
O meu impacto inicial não foi dos melhores. Para um título de doze anos atrás, ele visualmente envelheceu muito mal. Em minhas lembranças, os gráficos eram melhores, a câmera menos problemática, o sistema de inventário menos confuso. Mas algumas sessões trancado nesse estranho mundo junto com o protagonista Henry Townshend foram suficientes para dissolver esse véu: os pesadelos são claramente nítidos agora, a câmera está onde ela precisa estar e se torna mais um elemento fora do meu controle em uma miríade de elementos que desejam me confundir. Cada luta é brutal e cansativa, cada fuga um ato de desespero.
Henry perdeu sua liberdade. Trancado em seu apartamento por forças que desconhece, ele tem acesso apenas a lugares fora do tempo e do espaço, povoado pelos horrores da cidade-fantasma-sonho. Ele é um mero observador na tragédia que se tornou sua vida. Ao contrário de protagonistas anteriores, Henry perdeu a si mesmo.
No fundo de minha alma, sei que Henry está condenado e a resolução desse mistério não será nada agradável. Mas sigo em frente, ainda que com passos titubeantes.
Sim, estou de volta a Silent Hill. E ela estava me esperando.