Fui vencido pelo cansaço.
No final das contas, cinco meses depois de minha análise inicial, não foi o medo a sensação mais pungente em minhas andanças de volta em Silent Hill. Mas um indescritível cansaço, uma mistura de enfado com as falhas mecânicas do jogo, desapontamento com o que o jogo poderia ter sido e um profundo desprezo pelas soluções encontradas por seus criadores para prolongar a aventura.
Eu poderia perdoar a câmera que insiste em se posicionar nos ângulos mais inadequados, a movimentação grosseira dos personagens, o fato do protagonista lutar com a determinação de uma múmia com Lexotan ou até mesmo os efeitos sonoros que parece ter sido gravados com um microfone de celular. Eu deveria perdoar tudo isso pelo prazer de uma nova visita à enevoada, enigmática e indecifrável Silent Hill.
Mas não irei.
A partir de determinado ponto da trama, o que talvez poderia ser um fim ou uma arrancada final na direção certa, os desenvolvedores decidiram que o jogo colocaria o protagonista revisitando cada um dos cenários pelos quais ele já passara antes. Escoltando uma pessoa que se move de forma muito lenta. Com novos inimigos muito mais implacáveis do que outrora. Com graves limitações na sua capacidade de cura. Com bem menos enredo sendo oferecido a conta-gotas.
É uma solução, no mínimo, torpe, para uma série que, se não era redonda, pelo menos não costumava apelar para truques baratos para esticar sua vida útil. O que talvez funcionasse como uma peregrinação desesperadora na prancheta do projeto, na tela se torna uma insuportável tarefa, daquelas que o chefe entrega faltando meia hora para acabar o expediente, um tapa na cara de quem investiu tanto tempo e paixão no jogo, relevando os seus óbvios defeitos até então.
A morte se torna uma constante dados os novos fatores. O que aumenta a quantidade de vezes que você será forçado a repetir o que, por si só, já é uma reprise. Considerando que a pessoa que está te acompanhando não pode passar por determinados pontos, você também acaba tomando caminhos mais longos do que deveria, passando por paisagens que já conhece, esperando que o tormento termine. Mas ele nunca termina.
Henry está preso agora nesse labirinto recorrente. Deixo ele lá para sempre.
De todos os "(não) Jogando", esse com certeza foi o mais doloroso. Mas, como já havia afirmado antes, Silent Hill é sobre perdas.
E a maior perda foi minha.