Felipe Pepe, o pesquisador brasileiro autor do The CRPG Book Project, preparou outro petardo para dar uma sacudida naquilo que chamamos de jornalismo de jogos no Brasil. A longa crítica está repercutindo nos bastidores e merece a conferida.
Destaco aqui alguns trechos:
(...) a mídia atual se desconectou da comunidade. Quer coisa assim, vai ler fórum, guias no Steam ou Youtubers especializados. Lá é que se colabora, pensa e cria; na imprensa o foco é o hype.
(...) No Brasil, o que se traduz é press release de lançamentos AAA. O que não faz sentido — quem se importa com PS4 e Xbox One muito provavelmente tem grana, sabe inglês e poderia ler o press release original no Kotaku.
Não adianta posar de engajado social no Facebook e Twitter se depois vai escrever como se morasse em Miami. O atual jornalismo de games brasileiro é elitista e completamente desconectado da realidade do país.
(...) Isso afeta tudo. Se as notícias do momento são pautadas pelo hype gringo, o passado é pela nostalgia BR. São sempre as mesmas histórias: “Battletoads que era difícil, meo!”, “Mega Drive ou Super Nintendo?”, “Final Fantasy VII foi meu primeiro RPG!”, “Allejo mito!”, etc.
O foco é o “ah, eu também lembro!”, raramente o “nossa, não sabia!”
(...) Hoje é mais fácil encontrar boas entrevistas e artigos detalhados em blogs minúsculos e sem nenhum apoio. As grandes personalidades estão ocupadas sendo grandes personalidades.
O texto completo foi disponibilizado no Medium e vale quinze minutos do seu tempo, quer você trabalhe na área ou não.
Lembra meu desabafo raivoso contra a blogosfera gamer de alguns anos atrás. Parte daquela fúria que eu sentia amansou com o tempo, mas vejo que os problemas continuam ou até se agravaram entre os sites agora ditos profissionais. E os blogs? Extintos ou escondidos.
A impressão que me fica, e espero estar errado, é que ainda existe muito deslumbre e pouco jornalismo na área. Deveria haver um entrosamento maior com a realidade brasileira, inclusive com a indústria de desenvolvimento brasileira que está na sua melhor fase e frutificaria muito com uma cobertura melhor da mídia.
Mas são culpados os profissionais? O público não consome porque a mídia não oferece ou a mídia não oferece porque o público não consome? Uma notícia sobre o Call of Duty do ano, por mais reles que seja, gera mais cliques que um artigo profundo sobre como funciona a otimização de recursos de geração de cena de um jogo ou um levantamento da história dos FPS. Um vídeo de um sujeito se esgoelando enquanto joga um survival horror tem 100 vezes o número de visualizações de uma análise bem trabalhada do level design de Quake.
E a grande mídia vive de anúncios. E os anúncios geram renda em um momento em que o dinheiro está escasso no país, seja lá de quem for a culpa. Quem não quer ganhar bem fazendo aquilo que gosta? Nas engrenagens brutais da regra do mercado, o jornalismo de jogos precisa olhar para si mesmo e se definir: informativo? Entretenimento? Talk show? Raso ou profundo? Tudo ao mesmo tempo?
São respostas que não tenho, transito por quase todos os lados da questão, publicando artigos obscuros por aqui, divulgando Call of Duty ali, tentando um meio termo acolá.
E você? Quer ser um jornalista de jogos?