De boas intenções, o Inferno está cheio. Esta pérola da sabedoria popular pode ser aplicada ao objetivo principal desta série do Retina Desgastada: encontrar uma forma interessante de se jogar com os Aliens (ou o Predador, por extensão). O resultado final é inconclusivo, após analisar um mod para Killing Floor, o Aliens vs Predator Classic e, agora, a versão 2008 de Aliens versus Predator. Ao final da maratona, não me senti satisfeito de forma alguma. E não será uma visita ao infame Colonial Marines que me fará mudar de opinião.
Mas esta pérola também se encaixa como uma luva à segunda empreitada da Rebellion no universo das mortíferas criaturas. Onze anos separam os dois jogos e é perceptível que a desenvolvedora se rendeu às mais torpes convenções dos jogos modernos. O mais recente Aliens vs Predator tem uma campanha solo extremamente curta, com mapas absolutamente lineares e uma forte vocação para segurar a mão dos iniciantes. Bem diferente da pancada hostil do título de 1999. Em contrapartida, coisas que eram simples anteriormente, agora são mais complicadas de se executar.
Graficamente falando, o jogo é um colírio para os olhos. Há sangue e vísceras em profusão, para saciar os apetites mais sádicos. As finalizações dos dois alienígenas dão um tom pesado ao massacre. No aspecto sonoro, o título é menos saudosista: ao contrário da primeira versão do encontro dos monstros, não há aqui o uso ostensivo de sons dos filmes, e isto fez falta. A trilha sonora não marca e tampouco assusta. Seus ouvidos irão preferir o jogo mais antigo.
Ironicamente, a melhor campanha de todas é a do Predador. Não que isso queira dizer muita coisa aqui, mas, se considerarmos que o caçador espacial foi sempre negligenciado em jogos anteriores, é bom vê-lo retratado um pouco melhor. Em confronto com os humanos, o foco está no stealth. O Predador pode pular para lugares altos (mas apenas aqueles assinalados previamente), desorientar os soldados com suas imitações de voz, plantar armadilhas ou se aproximar sorrateiro pelas costas e executar violentos movimentos de matança. É quase um Assassin's Creed, exceto que a mecânica dos saltos não é nem um pouco livre. Mas nem o supremo caçador está livre do paternalismo: o jogo é capaz de assinalar no mapa os pontos exatos que você precisa pular para transpor um abismo sem passar pela ponte e alertar a torre de segurança. Pra que colocar um desafio em cena, se você vai pegar minha mão e me levar em segurança?
Em combate com os Aliens, impera a truculência. A Rebellion criou um sistema de combate corpo a corpo que funciona muito bem com as duas lâminas de pulso do Predador. Exceto que a instrução de qual botão apertar aparecem na tela a campanha inteira! E olha que o sistema é bem simples, baseado em apenas três tipos de movimento: bloqueio, ataque leve e ataque pesado. Com o inimigo caído, é possível agarrá-lo e realizar uma finalização que sempre impressiona pela brutalidade.
Lamentavelmente, as visões diferenciadas do capacete do Predador são quase inúteis e você passará a maior parte do tempo na visão normal humana mesmo. Apesar dos pesares, é muito divertido sair no tapa com os xenomorfos ou espreitar os pobres humanos e se esgueirar por trás para arrancar uma cabeça. Além disso, a história que se descortina, até que prende em alguns momentos.
A campanha dos Aliens tem controles confusos. Para entrar em um duto de ar, por exemplo, você precisa assiná-lo com uma visão especial e apertar o botão de pulo. Em todos os jogos anteriores, era só colar na parede e andar até o duto que o bicho já entrava. A transição entre uma parede, um chão e um teto também não é tão fluida, onze anos depois. Com muitos cenários a céu aberto, que favorece o Predador, o Alien aqui tem poucos dutos para explorar. Não se nota o mesmo cuidado que havia no jogo de 1999 em se construir mapas que explorem bem a capacidade do xenomorfo de caminhar pelos "bastidores". Até destruir as lâmpadas do cenário, algo tão tranquilo de se fazer antes, agora é uma luta contra garras que não acertam o lugar exato e lâmpadas que parecem feitas de aço.
Se é natural para o Predador ou para o Marine receber instruções do que precisa ser feito em suas missões, para o Alien esta mecânica é, no mínimo, bizarra. É até aceitável que a Rainha Alien mantenha um laço telepático com seus zangões. É algo que já foi visto antes na mitologia do xenomorfo. Mas que esta mesma Rainha tenha uma onisciência dos cenários e saiba, por exemplo, que a destruição de uma torre específica de comunicação irá abalar os humanos, é forçar a amizade. No frigir dos ovos, você não tem muita certeza do porquê você está fazendo aquelas coisas, porém, você dá um desconto porque está no comando de um animal. A cena final da história de "6", o Alien protagonista, é épica, mas faz tanto sentido quanto a fuga do Tiranossauro do barco em Jurassic Park 2.
Finalmente, chegamos na campanha do Marine. A princípio, a mais imersiva, porque as cutscenes de abertura são muito bem trabalhadas. Nos primeiros minutos, você já tem noção do tamanho do problema em que está se metendo. Para minha infelicidade, a sensação de horror cai por terra diante da obviedade das situações: um sinalizador de movimento que apita a todo instante, com mais falsos positivos que verdadeiros positivos; aliens que saem de dutos a vários metros de distância e se aproximam lentamente de você para que você os acerte; NPCs que não duram três minutos vivos ao seu lado porque um script irá matá-los em breve; interrupções constantes no ritmo para que comece uma nova cutscene ou você receba novas instruções.
Como se a monotonia das situações não fosse um problema suficiente, na hora em que o couro come, o Marine é o pior de briga. Não porque ele seja o mais fraco das três espécies, mas porque o mouse demora muito pra responder, de forma inadmissível em um FPS. E, não se engane, se o Predador e o Alien tem jogabilidade stealth, com foco em combate corpo a corpo, a campanha humana é um FPS "moderninho": eventos pré-programados aos borbotões e fases lineares. Entretanto, este ainda não é o fundo do poço. Você pode encher o Alien de chumbo grosso, com uma quantidade de balas que teria matado três xenomorfos no jogo de 1999, e, ainda assim, ele não cairá. O novo jogo insiste que você entre na dança do combate corpo a corpo, bloqueando e dando coronhadas no monstro, que parecem fazer mais efeito que as balas. Isso, minutos depois de ter te mostrado um alienígena quase arrombando uma porta de aço na base do murro. Quando me dei conta que a campanha do Marine era um péssimo FPS, joguei a toalha.
A busca se encerra por aqui. Entre mortos e feridos, um jogo de Aliens (com ou sem o Predador) que faça jus ao poder que a criatura tem na cultura pop ainda está perdido no futuro distante.
Talvez, em incubação neste momento...