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Channel: Retina Desgastada
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A Era Obsidiana

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A esta altura do campeonato, eu já deveria ter me preparado para minha sina. Quem acompanha o blog, sabe que toda troca de PC é sempre acompanhada de uma dor de cabeça colossal. Simplesmente não existe a possibilidade de entrar em uma loja, comprar um PC completo, chegar em casa, ligar na tomada e usufruir imediatamente da aquisição. Essa é uma recompensa dedicada aos consolistas, àqueles que compram um home theater, àqueles que trocam de geladeira ou instalam uma nova máquina de lavar. A sina do usuário de PC ou, especificamente, deste que vos escreve, é padecer no paraíso, é conquistar sua glória às custas de sacrifícios de sanidade para o Omnissiah.

DCUO

 

Novamente, mais de cinco anos se passaram e chegou o momento de substituir Doctor Horuz. Não exatamente porque meu PC antigo tornou-se obsoleto, alimentado por múltiplos upgrades, mas principalmente porque meu filho ansiava por minha máquina, uma configuração capaz de rodar os jogos com que ele sonha. Chegou a um ponto em que ele ainda tinha guardados os presentes de Natal de 2023: Watch Dogs Legion e Horizon Zero Dawn, que não rodariam na ancestral Kryta.

Então, eu fui atrás de um novo PC para mim. Um gabinete novo (e ventilado), um processador mais avançado e um placa-mãe compatível. Todo o resto seria herdado do meu PC anterior e meu filho migraria seus SSDs, memórias e fonte para o meu PC antigo. Parece complexo, mas era apenas uma questão de mover peças de A para B e de B para C. Teríamos dois PCs funcionais e uma carcaça abandonada. Parecia simples. Foi um inferno.

Estalar de Dedos

O sonho do upgrade estava sendo cozido em banho-maria desde julho do ano passado. Deveria ser um presente de aniversário a mudança de PCs e não foi. Imprevistos financeiros aconteceram, seguidos de longos seis meses de sufoco em que até uma geladeira pifou. Na última semana de férias escolares, o dinheiro exato para comprar tudo estava em minhas mãos outra vez. Eu havia pesquisado o valor das peças, eu havia confirmado com a loja. Eu estava pronto.

Se você está imaginando que eu cometi a insensatez de montar tudo sozinho, lamento dizer que você está enganado. Conheço minha sorte. Ou achava que conhecia. Paguei a montagem: processador na placa-mãe, placa-mãe no gabinete. Achava que estava livre de surpresas. Achava que seria capaz de montar todo o resto sem desafios.

Fo então que literalmente tudo que podia dar errado acabou acontecendo. De todas as trocas de PC, nenhuma foi tão devastadora quanto essa. Calculei que resolveria tudo em duas horas. Levei três dias. Na verdade, nesse momento, quatro dias depois, ainda não posso dizer que está tudo perfeito. Ainda há ajustes.

O transplante de peças foi a parte menos exaustiva. O PC novo recebeu a fonte de 650W do PC do meu filho (por que ele estava com isso? Era potência demais para suas necessidades!), meus 16GB de RAM, meu NVME com o Windows 10 já instalado, dois SSDs adicionais e uma RTX 2080. Encaixa daqui, encaixa dali, passa o fio por aqui, passa fio por ali… não ficou bonito, organização de cabos não é o meu forte.

gabinete-gamer

Pego a tampa para fechar tudo e ligar…

… e a tampa de vidro escorrega de minhas mãos.

Foi o segundo mais veloz da minha vida. Nunca vi um um pedaço de vidro virar literalmente nada tão rápido. Pisquei e a placa de vidro era agora uma montanha de cacos minúsculos, como açúcar cristalizado. O tsunami de vidro também tinha se esparramado pelas entranhas do meu novo PC aberto, pelas entranhas do meu PC antigo, pela extensão da sala e até dentro da minha bermuda.

O irônico é que eu já havia decidido o nome do PC antes mesmo de comprar: Obsidian. Se cada máquina foi batizada com base no jogo que seria instalado nela, decidi prestar uma homenagem ao Minecraft que meu filho e eu desfrutamos em janeiro. Não tinha me atentado que obsidiana é um tipo de vidro vulcânico.

Outra ironia é que meu PC anterior precisava ficar aberto por causa do calor. Foi o que me levou a escolher um gabinete com tantos coolers. Finalmente, teria uma máquina que pudesse ser fechada. E então, a tampa se quebrou. Maldita cultura gamer que trocou o metal indestrutível e elegante por uma transparência frágil.

Por razões óbvias, preferi remover logo a tampa frontal, que também era de vidro. Não percebia que era apenas o começo do calvário.

Lei de Murphy

Passei um tempo razoável catando pedaços de vidro e garantindo a segurança do ambiente. Mesmo assim, dois dias depois, ainda estávamos encontrando cacos.

Pluguei Obsidian (agora sem vidro algum, em todos os sentidos) e liguei: não deu energia. Acerta os cabos de ligar e desligar. Não ligou.

Passei para o PC do meu filho, o recauchutado Doctor Horuz. Pluguei tudo, sem quebrar nada. Liguei. Não deu tela.

Passei um tempo relativamente grande alternando entre os dois, tentando decifrar ora um enigma, ora o outro. Entendi que Doctor Horuz tinha problema de memória. RAM mal encaixada é uma escuridão velha amiga minha. Porém, fui surpreendido: a RAM do PC antigo do meu filho não era compatível com o PC novo. Parecia encaixar, mas não encaixava. Fui obrigado a rachar minha DDR4. A máquina nova ficou com um pente de 8GB, a máquina velha ficou com o outro pente de 8GB. Tínhamos um downgrade.

Miséria pouca é bobagem e comprei um pentão de 16GB para o meu PC novo na Amazon. Aproveitei e comprei um SSD de TB, já que o gabinete novo não tinha suporte para meu velho disco com arquivos.  O dinheiro acabou, mas foi tudo parcelado e o Aquino dos próximos meses que aceite sua sina.

Felizmente, o PC do garoto funcionou. Ele ainda herdou minha RTX 2070 que estava parada, então, pela primeira vez, nós dois teríamos RTX. Nesse momento, eu deveria me dar por satisfeito: se a meta era deixar meu filho com uma máquina muito superior àquela que ele tinha antes, essa meta tinha sido alcançada. Faltava agora ter um PC operacional em minhas mãos.

No caso do PC dele, foi só encaixar o SSD com o sistema operacional que tudo fluiu. Seu Windows reencarnou em um novo corpo. Glória ao Omnissiah. No meu caso, a tarefa se mostrou impossível. O Nvme não dava boot nem com reza forte. Passei a noite de quarta-feira estudando sobre MBR, GPT, CMS, BIOS e outra siglas na busca por respostas. Inicialmente, era até possível usar um ponto de restauração daquele Windows, então, ele existia, ele era reconhecido. A madrugada chegou e fechei o dia sem solução.

MBRGPT

Na quinta-feira, não tinha mais como fugir do trabalho e das demandas. Usei o PC do meu filho para completar compromissos, felizmente todos online, todos dependendo de atalhos e ferramentas que minha conta Google transportava. Nos intervalos, tentava reinstalar o Windows na minha nova máquina, fosse por cima do Nvme, fosse em um outro SSD vago. Nada funcionava. Qualquer tentativa de instalação se arrastava por horas.

Coloquei o Ubuntu em um pen-drive e, para surpresa de zero pessoas, o sistema operacional funcionou perfeitamente bem, reconheceu todos os meus drives e permitiu que eu salvasse nosso mundo de Minecraft. Estava disposto a tomar o caminho nuclear: formatar o Nvme.

Ainda assim, o processo de instalação do Windows 10 parecia não andar. Fui removendo os drives um a um e me conformei com a possibilidade do Nvme ter algum problema ou estar mal encaixado (embora o Ubuntu tenha navegado por ele sem problema algum). No que o Nvme saiu de cena… o Windows 10 desencantou. A instalação fluiu para o SSD na velocidade normal. Já era quinta-feira de noite, mas havia agora uma luz no final do túnel: o Windows 10 estava rodando em Obsidian.

Nada Está Tão Ruim que Não Possa Piorar

Eu imagino que talvez você esteja cansado de chegar até aqui, mas asseguro que é apenas uma fração do cansaço e da frustração que senti. Eu imagino que, daqui pra frente, talvez você imagine que minha criatividade tenha entrado em cena, mas a sucessão de fatos é real. E prometo ser breve.

Na quinta-feira, à noite, poucos minutos depois do Windows 10 finalmente funcionar em Obsidian, a internet caiu. Não no meu PC, não em minha casa, mas em toda a região. Nada de atualizações, nada de downloads de softwares. Eu só podia olhar para a máquina com um misto de tristeza e incredulidade. Decidi dormir cedo e acordar mais cedo na sexta-feira.

Shot of a young businessman looking bored while working at his desk during late night at work

Na sexta, movido pela teimosia, fiz tethering com o celular e comecei a instalar um programa aqui, outro ali, navegar pela web. A operadora só conseguiu restaurar a normalidade às 16 horas da sexta-feira.

Às 17 horas, acabou a luz. Desabou um temporal no Rio de Janeiro e a rede elétrica por aqui não aguentou. Nesse momento, eu já estava convencido de que estava vivendo uma hipérbole, de que havia desagradado alguma força maior no meu impulso consumista. O roteirista de meu novo PC estava inspirado demais.

A energia elétrica só normalizou às 11 horas de sábado. Foi só aí que eu finalmente comecei a customizar o PC novo, instalar programas, reativar atalhos…

Qual é a Configuração?

Resumi todo esse tormento para meus camaradas no Gamerview e recebi a seguinte resposta de um deles: “Tudo isso é triste e tal, mas qual a configuração? Kkkkkk”.

Entendi o recado, então, se você leu até aqui ou se pulou para o final, conheça Obsidian!

Minecraft_Obsidian

 

Configuração inicial:

  • Intel Core i3 12100-F 3.30 GHz
  • 8GB de RAM DDR4 (em breve 16GB, porque a Amazon atrasou a entrega)
  • Placa de Vídeo NVIDIA RTX 2080 com 8GB de RAM
  • SSD de 240 GB com o sistema operacional
  • SSD de 480 GB para trabalho e jogos
  • SSD de 1TB para arquivos em geral

O Nvme será investigado e poderá receber um clone do drive do sistema operacional no futuro. A expectativa da nova máquina é rodar Pacific Drive sem fritar nada e aguentar os jogos dos próximos anos. E que 2030 me saúde com um PC novo livre de percalços.

Ouvindo: Falcom Sound Team - SOMETHING EVIL

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