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Jogando: Marvel's Guardians of the Galaxy

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Assim como todo mundo, eu não era fã dos Guardiões da Galáxia. Para mim, o grupo tinha sido coadjuvante de uma aventura (muito boa) dos Vingadores quando eu era garoto e nada mais. Para a Marvel, idem. O ressurgimento do grupo, com uma formação totalmente diferente e com histórias ambientadas no século XX1, veio a reboque de outra saga no começo dos anos 2000, mas eles eram somente outro daqueles vários grupos da segunda divisão da Marvel, que surgem e caem no esquecimento, como Campeões, Defensores, Novos Guerreiros etc.

Até que vieram os filmes. O diretor e roteirista James Gunn é um apaixonado por quadrinhos, especificamente os obscuros. O seu talento catapultou aquela equipe de esquisitos para a lista dos mais queridos nos cinemas, com uma trilogia impecável que deixará saudades e nunca se repetirá. Exceto que existe uma quarta história.

Marvel's Guardians of the Galaxy é um jogo construído em cima da mítica dos personagens estabelecida nos quadrinhos, à semelhança com infame Marvel's Avengers. Entretanto, ao contrário da Crystal Dynamics, que se viu forçada a implementar mecânicas de Game as a Service no título dos Vingadoidos, aqui a Eidos não foi incomodada e conseguiu fazer uma aventura que se sustenta por si só e conta uma história fabulosa.

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Para os fãs de quadrinhos, há uma variedade colossal de referências a histórias clássicas do grupo, personagens que nunca tiveram um espaço no cinema e até mesmo uma conexão inesperada com a formação original do século 31. Para os fãs dos filmes, a aventura traz de volta toda a atmosfera desenvolvida por Gunn, como os diálogos constantes, afiados e hilários, assim como a dublagem original brasileira. Jogar Marvel's Guardians of the Galaxy é como participar de um quarto filme, um pouco mais longo e com alguns detalhes que não batem com a continuidade vista no Universo Cinematográfica da Marvel. Ainda assim, esses são os Guardiões da Galáxia que me conquistaram e o jogo ajuda demais a matar essa vontade de rever velhos amigos.

More Than  a Feeling

Para minha absoluta surpresa, o núcleo desse enredo é emotivo. Há humor aos borbotões, há batalhas aos borbotões, alguns poderão dizer que há um excesso de ambos, mas, acima de tudo, o fio condutor dessa narrativa é um sentimento muito mais profundo: a perda. Vivemos em uma galáxia que passou por uma guerra devastadora e que sente a perda de seu sentido, a perda da crença nas autoridades. Comandamos personagens que são definidos por aquilo que eles deixaram para trás e tudo isso terá e será trabalhado junto com o jogador ao longo dos capítulos. Até os personagens que passam por nós, incluindo inimigos, estão motivados pela dor da perda. O exercício da empatia acaba se tornando fundamental para mergulhar nessa jornada.

Como cabe a todas as boas histórias, nossos heróis são imperfeitos, extremamente imperfeitos. De suas relações, brota uma aliança que vai ficando progressivamente mais forte ao longo do jogo, inclusive em suas mecânicas. Esses perdidos, essa carismática trupe de golpistas, vai se remontando até se tornar uma família. É uma trajetória que foi bem executada ao longo de três filmes e que o jogo reencena, com novos cenários e desafios, ao longo de suas 26 horas. Todos eles terão que fazer escolhas de cortar o coração, todos terão que superar a si mesmos para que, juntos, consigam realizar o impossível.

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Como não se emocionar com Peter Quill e as lembranças de sua mãe ou a repetida cena de uma certa festa de aniversário? Na celebração da vida, paira a sombra da morte. Como não se emocionar com Gamora perdendo a linha, quando você sabe exatamente o motivo para ela fazer o que faz? Como não se emocionar com o vazio no coração de Drax ou seus questionamentos diante do vazio no coração do universo? Definitivamente eu não esperava, em um jogo de ação, em um jogo dos Guardiões da Galáxia, de quadrinhos, tantos momentos em que fui obrigado a parar e respirar.

Para, minutos depois, ser brindado com uma piada, uma fala absurda. Rir. Chorar. Sentir raiva. Sentir medo. Desafiar o desconhecido, contemplar o indecifrável e resistir a promessas vazias. Tudo isso em meio a tiroteios, bravatas e música dos anos 80.

Tainted Love

Em vários momentos, pensei: "esse jogo merece ir para  a Lista de Favoritos". Entretanto, ele não vai estar lá. É lamentável que haja tantos problemas técnicos em uma história tão magistralmente contada.

Graficamente, Marvel's Guardians of the Galaxy é deslumbrante. A Eidos compreendeu perfeitamente o tom do grupo e de seu universo e usou e abusou de cores de explodir cabeças. Não há aqui aquela frieza estética de um Star Wars ou de um Star Trek, mas o fulgor "kyrbiano" das histórias espaciais dos anos 70. Tudo é vermelho escarlate, amarelo gema, azul celeste, não existem cores simples ou paisagens corriqueiras. Tudo transborda fantasia, ainda que estejamos falando de ficção científica.

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Entretanto, esse esplendor cobra um preço alto da GPU. Principalmente na renderização de chamas e alguns efeitos, que podem fazer sistemas menos parrudos (como o meu) reclamarem e até travarem.

O áudio do jogo também deixa a desejar. Uma vez que os personagens falam pelos cotovelos, não há uma implementação muito boa para gatilhos de eventos. Isso significa que, muitas vezes, basta Peter Quill dar dois passos que uma fala inteira de determinado personagem acaba sendo cortada para entrar outra. Essa perturbação acontece com frequência absurda, ao ponto de incomodar, ao ponto de eu escolher ficar parado aguardando todo mundo ficar quieto, antes de finalmente me mover, para não correr o risco de perder uma informação pessoal, engraçada ou até mesmo importante para solução de um puzzle. Em contrapartida, durante certos combates mais longos, o repertório dos personagens se esgota e eles se repetem nas falas.

Repetição é outro defeito grave de Marvel's Guardians of the Galaxy. Existe realmente uma quantidade exagerada de combates, alguns rigorosamente idênticos um atrás do outro.Você está pedindo por um puzzle, por uma conversa diferenciada, uma cutscene e o jogo te entrega três, quatro, cinco batalhas contra o mesmo tipo de inimigo, nas mesmas condições.

Ainda que o combate seja gostoso, leva um bom tempo para se acostumar. Felizmente, o sistema é customizável ao gosto do freguês. Eu, por exemplo, optei por pausar completamente a ação quando Peter Quill emite comandos para o resto da equipe. Lamentavelmente, a resposta dos controles não é das melhores na hora a onça beber água. Muitas vezes, apertava o botão e o jogo não registrava. O seletor de dano elemental insistia em selecionar sozinho a opção incorreta, por causa de um leve esbarrão no scroll do mouse. Controlar a Milano em batalhas espaciais é um sofrimento, ainda que só precise ser realizado algumas vezes. Felizmente, a Eidos foi bastante generosa com checkpoints. Novamente, fui obrigado a ajustar a dificuldade, para dar conta das falhas mecânicas.

I Love It Loud

Marvel's Guardians of the Galaxy vendeu menos do que deveria, teve menos atenção do que deveria. A mancha de Marvel's Avengers colou no título da Eidos, mesmo sendo obras com propostas completamente diferentes, tanto em suas temáticas quanto nas suas execuções. O que a Eidos entrega aqui é um título que poderia facilmente estar lado a lado com as melhores histórias do grupo, uma jornada apaixonante, ligeiramente prejudicada por questões mecânicas ou técnicas.

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Ainda estamos em janeiro, mas acredito ter encontrado o maior candidato a meu jogo favorito de 2025.

Ouvindo: Elis - Core of Life

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