Apesar de minha bem-sucedida jornada por Guild Wars 2, a minha frustrada tentativa de jogar The Old Republic me deixou tão desatinado que cometi a insensatez de jogar um desafio no Twitter: a primeira sugestão seria meu próximo MMO. O @fijikirkfiji foi rápido no gatilho e disparou "Priston Tale", fulminando a concorrência.
Priston Tale foi lançado inicialmente na Coreia do Sul no distante ano de 2001, o que o torna velho demais para competir com títulos mais recentes, ao mesmo tempo que é novo demais para receber a fama de "clássico". Se é que irá ganhar o título algum dia. Mesmo assim, apesar da idade, dos defeitos, de haver alternativas muito superiores no mercado e igualmente gratuitas, reza a lenda que ainda existe uma comunidade ativa. Segundo a propaganda no site brasileiro oficial, é "o MMORPG que mais cresce na América Latina".
O próprio responsável pela sugestão meio que confessou que sentiu o impulso da zoeira. Que havia jogado Priston Tale na pré-adolescência e que pertencia a um passado vergonhoso. Ou algo assim. Outros falaram que era um título dominado pelo grinding, pelos cheaters, pelo desequilíbrio e praticamente abandonado pelos administradores.
Eu diria que é um MMO dominado pelo tédio.
Ainda que movido pela maior boa-vontade, a própria Hazit quase que barra minha experiência antes mesmo de começar. Priston Tale tem um dos mais burocráticos sistemas de cadastro que já vi, com múltiplas senhas que precisam ser ativadas além de uma análise prévia para "avaliar" se você merece entrar para o MMO. Não sei se tiveram problemas com hackers no passado, mas agora parecem mordidos de cobra. Além de tudo isso, existe um programa anti-cheat que abre simultâneo ao jogo. Apenas bancos perdem em termos de segurança online.
Depois de esperar três dias para meu cadastro ser aprovado, entrei no jogo. Há um grande contraste entre as artes do site e os personagens no jogo. Nas artes, você tem a impressão de que controla jovens aventureiros de 18/20 anos. Na hora da jogatina, parece que o mundo é protegido por aventureiros de no máximo 13 anos. Aos 40, sinto-me o tiozão do pavê na festa da escola.
Escolho uma arqueira, porque sou um covarde assumido e gosto de atacar de longe. A cidade inicial é bem tranquila, mas o jogo não dá nenhum contexto para você, nenhum vídeo introdutório. Há uma breve desorientação sobre os comandos, mas, felizmente, Priston Tale é um dos RPGs mais simples que existem, podendo ser todo controlado com o mouse ou usando alguns atalhos de teclado. Depois de toda a complexidade matemática que os modernos MMOs introduziram, esse aqui é um sopro de obviedade.
Ao sair da cidade, descubro a falha crucial do jogo: o sistema de batalha. Tenho que matar algumas "minhocas" na floresta, mas o lugar também está infestado de tatus(!) e cogumelos hostis. E o combate se baseia em clicar no alvo para acertar uma flecha.
E clicar.
E clicar.
E clicar.
E clicar.
E, sim, eu escrevi quatro vezes sem copiar e colar para marcar bem o quanto é chato. Depois de cinco cliques, o inimigo morre e larga um punhadinho de moedas. Outros seis inimigos se aproximam. Você clica, clica, clica, clica, clica, morre um. Morrem dois. Três dão respawn. É como varrer a areia da praia, mas pelo menos os pontos de experiência fluem e é bem intuitivo onde se podem aplicar os pontos de habilidade. Depois de muitos cliques, você já consegue matar os inimigos com menos cliques. É uma frase muita estranha.
Graças ao Natal, há outros tipos de monstros espalhados. Difíceis de mais para quem está no começo do jogo, mas dane-se. Um boneco de neve assassino demora uns trinta cliques para morrer. O duende natalino levou cinco cliques, sua barra de energia não se moveu um milímetro, ele derrubou metade da minha vida, fugi.
Há algo de relaxante em sua simplicidade. É como um Diablo minimalista, com uma heroína tween, tatus matadores e menos loot. Em uma destas evoluções eu ganho uma magia que convoca um falcão. A ave sobrevoa o campo de batalha e me garante um bônus de ataque. É imperceptível, mas dá uma utilidade ao botão direito do mouse.
Outra missão mais à frente me pede para matar dez esqueletos. Agora a coisa ficou séria. É em outra área, depois da floresta. Mas cruzar a floresta é demorado, parando para enfrentar tatus e duendes. Entediado, deixo isso pra lá e tento me desviar de todos os inimigos.
O cenário dos esqueletos tem a textura mais feia do universo para chão calcinado e umas ruínas esparsas. Supostamente a rota comercial entre a cidade inicial e a vila mais próxima está sofrendo com o surgimento de alguns esqueletos. É mentira. É mentira. Tem esqueletos por todos os lados, além de zumbis, Lordes das Árvores(?), fantasmas, capetinhas e duendes natalinos. Você não consegue lutar sossegado com um sem atrair a atenção de quatro ou cinco. É uma longa dança de cliques e fugas.
Mato os dez esqueletos que tem que matar e vou pegar minha recompensa, que, misteriosamente fica na tal vila depois de outra área. Do nada, aparece um dragão e me mata.
Do nada. Morri com um golpe.
Reapareço na cidade inicial, com a certeza de que terei de cruzar a floresta dos tatus, o deserto(?) dos esqueletos e a maldita área dos dragões antes de chegar na outra vila e pegar minha recompensa, que, agora se torna a coisa mais importante do mundo.
Nesse meio tempo já troquei de arco e equipamento algumas vezes. Uma minhoca morre com um clique agora! Que evolução! Pena que você mata uma, duas, três, reaparecem três.
Cruzo a floresta com irritação. Cruzo o deserto como um relâmpago. Entro na área dos dragões com precaução. Tem alguns dragões, guerreiros e feiticeiros por ali. Um feiticeiro faz chover meteoros. Fujo desesperado.
Morro.
Desta vez escolho reaparecer próximo, perdendo um pouco de XP e ouro. Entro de novo na mesma área, com mais cuidado ainda e, finalmente chego na vila que tinha que chegar. São dois lojistas com barraquinhas no meio de ruínas infestadas de Lordes das Árvores e Baratas Gigantes. Sério, baratas. Baratas caolhas que cospem gosma.
O ferreiro me agradece por ter deixado a estrada mais segura. "Cara, você está me zoando?", eu pergunto a mim mesmo. A estrada para cá é um Inferno, amigo. E esqueletos são o menor dos seus problemas. O prêmio são uns cristais que aumentam o poder de ataque por 500 segundos. Então, resolvo testá-los.
Ativo um dos cristais e parto para cima de um bando de Lordes das Árvores e uma Barata Gigante. Clique, clique, clique, clique, convoca o falcão, clique, clique, clique, foge que não fez diferença esse cristal idiota. Quinze minutos de cliques e ainda estou vivo. Não tenho para onde ir. Não tenho outra missão. Não tenho propósito em Priston Tale.
Foge que o duende natalino apareceu.
Fecha. Adeus.