Para um ano que teoricamente deveria ter sido dedicado às continuações, até que demorei para começar uma verdadeira continuação. Mass Effect 2 e Mass Effect 3 foram etapas de uma maratona prolongada, World of Warcraft foi porque me deram uma chave de presente, You Are Empty foi porque eu estava com ele engasgado há anos e DC Universe Online, bem, esse não tem justificativa. O que me leva para a Overlord II, continuação de Overlord, um jogo dos primórdios do blog, no distante ano de 2010.
O que estes quase três anos de distância fizeram pela franquia em meu coração? Com certeza, eu me esqueci dos defeitos. Não me lembrava da burrice artificial dos Minions, que insistem em acertar o alvo errado ou acender barris explosivos mesmo quando não seria seguro. Não me lembrava da quase absoluta falta do que fazer enquanto dispara ordens para seu exército de criaturas se espalha pelo cenário para semear o Caos. E apaguei da memória os puzzles que dão mais trabalho braçal do que raciocínio para serem resolvidos assim como os checkpoints geograficamente separados demais que me obrigam a fazer longas caminhadas até chegar de volta ao ponto de uma missão. Naturalmente, Overlord II refresca as sinapses e me lembra de tudo isso em um par de horas.
Mas continua incrível a euforia dos primeiros minutos quando você passeia com sua trupe de hilários duendes(?) enquanto os civis correm em pânico. E são justamente nestes primeiros minutos que esta continuação mostra a que veio. No começo, o protagonista ainda é uma criança, um projeto de Overlord apelidado de witch-boy pelos aldeões, mas logo conquista a confiança dos Minions e passa a aprontar horrores no vilarejo de Nordberg. Em um curto espaço de tempo, temos Minions usando disfarces, um anti-herói fofíssimo, a ajuda de uma criatura bem maior do que o normal e Minions montando em lobos para ampliar a arruaça. É uma boa fórmula para a diversão e um grande tutorial.
Infelizmente, o jogo volta para o trilho estabelecido no primeiro jogo quando o novo Overlord atinge a idade adulta. Há algumas novidades, como a navegação de um barco mais adiante ou o uso de armas de cerco fixas, mas, nos dois casos, o controle é sofrível. Há uma clara armadilha em sequências: de um lado, o excesso de novidades periga alienar os fãs da tradição, por outro lado, a repetição das mesmas fórmulas desgasta o poder de encanto. E Overlord II abusa do direito de repetir o que tinha anteriormente. Mais uma vez, temos os mesmos quatro tipos de Minions, um lar para administrar, armas para evoluir (que tem pouca influência) e caricatas versões de habitantes de contos de fada para enfrentar. Há uma óbvia evolução gráfica aqui: Bloom, Motion Blur e Depth of Field marcam presença no jogo e o tornam lento como uma carroça. Mesmo com todas esta firulas gráficas que julgo desnecessárias desativadas, Overlord II ainda roda mais pesado que seu antecessor.
A maior novidade desta jogatina tem sido a ocasional companhia do meu filho, que virou fã dos desordeiros Minions e está louco para que eu encontre logo os Azuis e os Verdes. O que também tem rendido momentos de saia justa como quando eu tive que explicar que sim, os elfos protetores da natureza estão certos e não, o Overlord está errado e não devia deixar seus servos matarem as foquinhas.
"Aqueles olhinhos, aqueles... olhinhos!"
O grande trunfo na manga do primeiro jogo era a reviravolta no final da trama. O enredo era assinado por Rhianna Pratchett, antes da fama. O novo jogo também traz a assinatura da autora, então, aguardo algo mais interessante do que aquilo que apareceu até agora. Até o momento, há algumas metáforas bem óbvias sobre aquecimento global e imperialismo e o charmoso tom pastelão que existia antes parece ter sido bem reduzido.
Definitivamente, Overlord II é mais sombrio que o primeiro. É menos justificável bater em elfos hippies do que era bater em anões avarentos e pinguços, por exemplo. E há toda uma diferença cultural entre matar ovelhas, animais que nós sacrificamos para obter carne com naturalidade, e matar filhotes de focas, um ato que sabemos ser de uma extrema barbárie. O controle exercido pelo protagonista sobre os cidadãos não é, na prática, nada diferente do jugo do Império, supostamente o grande vilão da trama. No jogo anterior, os aldeões ficavam felizes em trocar a escravidão na mão dos halflings pelo reinado do Overlord, que exigia tributos, mas era um monarca tranquilo. Em Overlord II, para manter seu domínio, há uma missão onde você deve obrigatoriamente transformar os civis em escravos sem mente ou matá-los... Enfim, não é o tipo de coisa que me tira o sono de noite, uma vez que é um universo ficcional e satírico, mas, a leveza do anterior facilitava a risada.