Entre 1998 e 2003, a Core Design viveu no paraíso. Apesar de já estar no mercado de desenvolvimento de jogos desde 1988, o pequeno estúdio comprado pela Eidos só atingiu o estrelato dez anos depois. Sua criação, a exploradora de catacumbas Lara Croft, se tornou mais do que um sucesso: virou um ícone pop. Cinco jogos depois, a fórmula estava cansada e a Eidos tirou a franquia das mãos da Core Design para entregar para a Crystal Dynamics. Em 2006, o estúdio foi fechado.
Mas esta não é uma postagem sobre Tomb Raider.
Espremido entre um lançamento e outro da aventureira, a Core Design produziu em 2001 uma gema escondida: Project Eden. E esta gema poderia ter sido perdida para sempre se não fosse relançada no GOG.
O jogo em terceira pessoa é um daqueles títulos cuja jogabilidade desafia descrições. Uma olhada descompromissada nas telas pode induzir a impressão de que se trata de um jogo de tiro em um cenário de ficção-científica, talvez com cobertura e vida regenerativa. Não é. Na verdade, a perspectiva está lá, há tiroteios, mas este não é o foco da aventura. Matar ou morrer é tão irrelevante que, se você for derrubado, irá apenas reaparecer em uma unidade ressurreição (?) alguns metros mais atrás. A chave para a compreensão de Project Eden são seus enigmas e sua atmosfera.
No título, você controla uma equipe de quatro policiais enviados para investigar uma série de desaparecimentos nos subterrâneos de uma cidade do futuro. Os avanços tecnológicos chegaram e as cidades agora são imensos arranha-céus que fariam os nossos parecerem um sobradinho. Todo mundo é saudável e feliz, exceto os desprivilegiados, como sempre. Abaixo da vida tranquila no topo urbano, há as ruínas da cidade antiga, território de gangues, mutantes, gente pobre tentando levar a vida e doentes. Quanto mais investiga o caso, mais profundo desce o seu time, mais sujo, escuro e decadente vai ficando o cenário, maior fica a sensação de que há algo muito errado nesta utopia. Para quem tem claustrofobia, é melhor ficar longe de Project Eden porque este é um jogo que oprime e dá falta de ar, flertando, em alguns momentos, com o survival horror.
Não vá esperando combates frenéticos a cada esquina, porque os tiroteios não são constantes. O foco é na exploração do ambiente e na resolução de enigmas para desbloquear o caminho. Cada personagem tem uma habilidade específica e é possível alternar o controle de cada um a qualquer momento. Na hora da luta, a inteligência artificial é satisfatória e você vai agradecer por ter esses companheiros do seu lado. Mas, na maior do parte do tempo, você terá que alternar os personagens e posicioná-los em lugares diferentes do cenário para solucionar os problemas que o jogo te oferece. A paisagem é tão desoladora que cada reencontro do grupo é um alívio. Como se essa dinâmica já não fosse interessante o suficiente, seu time ainda utiliza uma série de equipamentos essenciais para determinadas partes, como um mini-tanque de controle remoto, um drone voador e uma torre de tiro automática. Também é possível hackear metralhadoras fixas e liberar o seu lado sádico contra os inimigos.
Project Eden ainda ousa oferecer uma reviravolta no final da história e amarrar as pontas soltas de um dos policiais. Como o desenvolvimento de personagem é meio solto ao longo da trama, não chega a ser um final impactante, mas vale pela tentativa de adicionar mais escopo e tragédia a um enredo que já era carregado de angústia. E, após a derrota do chefe final obrigatório, sobra um gosto amargo, a certeza de que os problemas no universo do jogo são complexos demais para serem resolvidos a bala ou colocando quatro policiais nos pontos certos.